Ainda
desconhecido pela maioria da população, o óxi ou oxidado, uma droga parecida
com o crack, só que mais devastadora, já se espalhou por dez Estados do país e
recentemente chegou a São Paulo. Assim como o crack, o princípio ativo do óxi é
a pasta base da folha de coca. Enquanto o crack é obtido a partir da mistura e
queima da pasta base com bicarbonato de sódio e amoníaco, no óxi são utilizados
cal virgem e algum combustível, como querosene, gasolina e até álcool de
bateria --substâncias que barateiam o custo do entorpecente.
O óxi é inalado
ou fumado, assim como o crack, na lata ou no cachimbo. A droga é produzida na
Bolívia e no Peru e começou a entrar no Brasil em 2005 pelo interior do Acre.
Em pouco tempo, chegou a Rio Branco, onde atualmente há um número elevado de
usuários, e se espalhou para outras capitais da região Norte, como Manaus (Amazonas),
Belém (Pará), Macapá (Amapá) e Porto Velho (Rondônia).
Nos últimos
meses, houve apreensões e registros de usuários em Goiás, Distrito
Federal,Pernambuco, Mato Grosso do Sul e Piauí --onde
foram confirmadas 18 mortes só neste ano por conta do uso do óxi. Há rumores da
circulação da droga no Mato Grosso, Maranhão e Paraná, embora não haja
registros oficiais.
A Secretaria
Nacional de Políticas sobre Drogas (Senad), subordinada ao Ministério da
Justiça, informou que pesquisadores do órgão registraram a circulação da droga
em Santos (SP), mas não forneceu mais detalhes. Na capital, não há registros de
usuários de óxi no SUS (Sistema Único de Saúde), segundo a Secretaria de Estado
da Saúde. A Secretaria Municipal da Saúde da capital paulista, que faz um
trabalho com usuário de drogas na Cracolândia, região central, também afirma
não ter encontrado a droga.
Oficialmente, o
Denarc (Departamento de Investigações sobre Narcóticos) da Polícia Civil ainda
não fez apreensões da droga. Segundo o órgão, no entanto, o óxi já pode ter
sido apreendido, mas não foi diferenciado em razão de sua semelhança com o
crack. A maior diferença na aparência entre as duas drogas é a cor mais
amarelada do óxi, enquanto a pedra do crack é mais clara.
Composição da
droga:
- Pasta base da
folha de coca
- Cal virgem
- Combustível,
como queresone, gasolina e até álcool de bateria
O delegado
Reinaldo Corrêa, da Divisão de Prevenção e Educação (Dipe) do Denarc, cita um
episódio ocorrido em março deste ano, em que foram apreendidos 200 kg de crack
em um laboratório no Ipiranga, zona sul de São Paulo. Na ocasião, a polícia
prendeu oito mulheres contratadas em Alagoas para empacotar a droga, além de
seis homens que compravam a droga no atacado na Bolívia. Na época, o Denarc
anunciou que a apreensão era de crack, mas segundo Corrêa, tudo indica que, na
verdade, tratava-se de óxi.
“Os investigadores
queimaram algumas pedras para analisar o material e a substância soltou uma
espécie de óleo, que é um resíduo do querosene do óxi que o crack não solta. Só
foi registrado como crack porque os investigadores não sabiam da existência do
óxi. Agora, qualquer coisa que a gente apreender, vamos ficar de olho”, afirmou
o delegado.
Ainda segundo
Corrêa, pedras estão sendo vendidas na cracolândia por R$ 2 a R$ 5, valor
inferior ao que normalmente o crack é comercializado (entre R$ 7 e R$ 10), o
que pode ser um indício do comércio de óxi. Também há relatos não-oficiais de
uso de óxi na região da avenida Jornalista Roberto Marinho, na zona sul da
capital. “Se olharmos o percurso da droga, o próximo destino é São Paulo, que é
o grande centro consumidor de crack. Nada impede que o óxi chegue aqui”, disse.
Efeitos e danos ao organismo
A pasta base é
feita a partir da trituração da folha de coca, encontrada nos países andinos
(Bolívia, Peru, Colômbia e Equador). Para obter a pasta base, utiliza-se ácido
sulfúrico e outros componentes tóxicos. No óxi, a pasta base é misturada com
combustível e cal virgem, componentes corrosivos e extremamente danosos ao
organismo.
A droga inalada
chega ao cérebro entre 7 e 9 segundos, apenas, e acelera o metabolismo do
usuário, causando sensações de euforia, depressão, medo e paranoia. Diferente
da cocaína, os efeitos duram pouco tempo, no máximo 10 minutos. Essas
circunstâncias obrigam o drogado a inalar o óxi repetidamente para manter o
“barato”, o que aumenta as agressões ao organismo.
De acordo com o
psiquiatra Pablo Roig, diretor de uma clínica particular de recuperação de
drogados, o que torna o óxi mais letal que o crack é, em primeiro lugar, os
componentes adicionais --cal e combustível-- e, em segundo, a quantidade do
princípio ativo da cocaína, que no óxi é de 60% do composto, um pouco superior
ao encontrado no crack.
“São
substâncias com alta toxicidade, que causam dificuldades na respiração,
fibroses e endurecimento do pulmão. Afetam o sistema cardiorrespiratório e
promovem uma vasoconstrição muito intensa. Muitos usuários têm perda de
consciência, o que leva a uma parada cardíaca e ao coma”, afirma o médico.
A maioria dos
usuários intercala as inaladas com doses de álcool para controlar a sensação de
abstinência causada pela droga, o que ataca o fígado e o sistema digestivo,
fazendo com que os usuários tenham diarreia e vômito. Muitos usuários de óxi
apresentam aparência amarela por conta dos efeitos da droga no fígado.
“O álcool com a
substância da cocaína forma o cocaetileno, que pode provocar esteatose hepática
(gordura no fígado) e cirrose”, diz Roig. O cocaetileno também é uma substância
tóxica para o miocárdio, o que pode também provocar morte súbita.
Ainda não há um
estudo sobre a letalidade do óxi. Nos próximos dias, a Fundação Oswaldo Cruz,
em parceria com o Ministério da Justiça, divulgará um amplo estudo sobre o
crack que também deve abordar o óxi. No entanto, segundo o delegado do Deic, em
média 30% dos usuários da droga não sobrevivem após um ano de uso.
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